NARRADORES DE JAVÉ. Produção de Eliane Caffé. Riofilme,
2003. 1 DVD (100 min.). Widescreen, Collor.
Eliane
Caffé, cineasta paulista formada em psicologia, que demonstrou uma facilidade
em produzir curtas premiados como Arabesco
(1990) e Caligrama (1995), tendo o ator José Dumont, quem em
Narradores de Javé interpreta o carteiro/arteiro Antônio Biá, como figura
assídua em suas produções.
Narradores de Javé conta a história de uma cidade do semiárido
nordestino prestes a virar uma verdadeira Atlantis, isso devido à construção de uma
usina hidroelétrica. Porém tal empreendimento teve que enfrentar o
descontentamento da população, pessoas humildes com pouco ou nenhum
conhecimento de leitura ou escrita, mas que reconhece estes meios como a única
solução para salvar Javé de um inundamento. Mas o que teria a cidade para
contar que faria a ideia da usina ser esquecida? O mesmo que ouvimos de nossos
avós, que ouviram dos avós deles: as histórias.
Isso mesmo, a bagagem cultural que aquele lugar construiu até
o momento, com glórias, lutas e é claro muito humor. Para isto, a população
abriu mão do orgulho e recrutou Antônio Biá(José
Dumont) para o serviço. Biá,
carteiro da cidade, conhecedor da leitura e da escrita, antes a margem da
sociedade por ter escrito cartas difamadoras sobre a população apenas para
aumentar o volume de cartas de sua agência e manter seu emprego, agora tido
como salvador da pátria, incumbido de ouvir de todos da cidade e registrar a
heroica história de Javé. Daí inicia-se a caminhada de Biá em busca de relatos
importantes. Na verdade, todos os fatos comentados tinham as mesmas pessoas
mudando apenas, dependendo de quem estivesse contando, o mártir javélico: Maria Dina ou Idalécio, o mesmo
que para a comunidade quilombola seria Idalêo.
Tudo parecia estar indo bem e que as histórias estavam
sendo registradas, entretanto Biá estava novamente traindo a confiança da
cidade, não estava escrevendo o que lhe era relatado, não dava a importância
devida que a situação exigia, talvez por não acreditar que tudo aquilo pudesse
salvar a cidade. Foi então que a cidade descobriu que ele não havia escrito o
livro, desse modo nada teve Javé para mostrar e como consequência veio o que
todos temiam: a construção da hidroelétrica.
Narradores de Javé abraça a essência do que é o
nordestino, uma gente de aguerrida, cheia de esperança e que muitas vezes sofre
pelo descaso e pela “superioridade” que as pessoas de outras regiões no faz
acreditar que existe. Revela o poder econômico divisor de águas e precisamente
um carrasco de culturas alheias, que para ele não é tão importante para o
crescimento nacional.
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